Um dos temas que mais gera dúvidas entre pais, pediatras e até mesmo entre profissionais da saúde é a abordagem correta em casos de testículos retráteis. Afinal, quando é necessário operar? Qual a diferença entre testículo retrátil e testículo criptorquídico? E quais os riscos de não tratar?
Essas dúvidas são comuns, até porque envolvem decisões delicadas relacionadas à saúde reprodutiva futura da criança. Neste artigo, baseado na experiência clínica do Dr. Henrique Canto, especialista em cirurgia pediátrica, vamos abordar de forma didática e completa tudo o que pais precisam saber sobre testículos retráteis. O conteúdo também traz referências de sites confiáveis e atualizados para aprofundamento.
O que são testículos retráteis?
Testículos retráteis são aqueles que, por reflexos naturais do corpo, podem ficar fora do escroto mais tempo que o habitual. Isso acontece principalmente devido à ação aumentada do reflexo do músculo que move o testiculo para sua temperatura adequada.
Esse comportamento é considerado fisiológico até certa idade e acompanhado clinicamente, sem necessidade de cirurgia imediata.
Testículo retrátil x Criptorquidia: entenda a diferença
É fundamental distinguir entre testículo retrátil e testículo criptorquidico (ou criptorquidia). No caso da criptorquidia (discutido em outro capítulo neste site), o testículo permanece permanentemente fora da bolsa escrotal, geralmente localizado na virilha ou dentro do abdômen, sem retornar espontaneamente à posição correta.
Já o testículo retrátil pode ser visualizado na bolsa em alguns momentos e em outros, ele sobe para a região inguinal, retornando depois. Essa movimentação espontânea e reversível é o principal critério de diferenciação.
Segundo a UpToDate, cerca de 1 a 3% dos meninos nascem com testículo não descido, sendo que grande parte dos casos se resolve nos primeiros meses de vida.
Por que a posição do testículo é importante?
Os testículos precisam estar na bolsa escrotal para garantir a temperatura ideal para o desenvolvimento das células germinativas e, futuramente, a produção de espermatozoides. Quando o testículo permanece fora da bolsa, ele é exposto a uma temperatura corporal, mais elevada, que pode comprometer sua função a longo prazo.
Adicionalmente, existe um risco aumentado de torção testicular e traumas. Além disso, há também um risco, ainda que ligeiramente maior, de desenvolvimento de câncer testicular em casos de testículos não descidos.
Quando observar e quando operar?
Nos casos de testículo retrátil, a primeira abordagem é sempre conservadora. Recomenda-se que os pais observem a posição dos testículos durante o banho, nas trocas de fralda ou quando a criança está relaxada. Se o testículo permanece mais tempo na bolsa do que fora dela, e retorna com facilidade, o acompanhamento clínico é suficiente.
Por outro lado, se ao longo do tempo os pais ou o pediatra percebem que o testículo está ficando mais tempo fora da bolsa, especialmente na região da virilha, e além disso não retorna espontaneamente, então passa-se a considerar um testículo ascendente — uma condição intermediária entre retrátil e criptoquírquico — que eventualmente pode requerer intervenção cirúrgica.
Segundo a NHS, a cirurgia costuma ser indicada para o testículo não descido entre os 6 e 12 meses de idade. Em casos de testículo retrátil, a cirurgia habitualmente é indicada naquele que “subiu” (ascendente) e não retorna mais à bolsa.
Como é feita a cirurgia?
O procedimento cirúrgico indicado nesses casos é a orquidopexia, que consiste em reposicionar e fixar o testículo dentro da bolsa testicular. É uma cirurgia de baixa complexidade, feita sob anestesia geral e habitualmente em regime ambulatorial (alta no mesmo dia).
A escolha da técnica depende da localização do testículo no momento da cirurgia e pode ser avaliada pelo cirurgião durante o procedimento.
O que acontece se não tratar?
Quando o testículo permanece fora da bolsa por muito tempo, especialmente em regiões de maior temperatura como a virilha ou cavidade abdominal, podem ocorrer:
- Redução da fertilidade futura;
- Maior risco de torção testicular;
- Maior predisposição a traumas;
- Risco aumentado de tumor de testículo;
- Alterações hormonais a longo prazo.
O acompanhamento regular com o pediatra ou cirurgião pediátrico é importante até que se defina a conduta mais segura.
Há algo que os pais possam fazer?
Sim. Os pais devem manter uma rotina de observação simples e sem estresse:
- Observar os testículos da criança durante o banho, quando a musculatura está relaxada;
- Anotar ou relatar ao médico se perceber que o testículo está frequentemente fora da bolsa;
- Levar a criança às consultas pediátricas regulares e relatar qualquer mudança observada.
Em caso de dúvidas, consulte um especialista em cirurgia pediátrica para uma avaliação adequada e individualizada.
Referências confiáveis para saber mais:
- UpToDate – Undescended Testicle
- NHS – Undescended testicles
- Mayo Clinic – Undescended Testicle
- American Academy of Pediatrics – HealthyChildren.org
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