Você sabe o que deve — e o que não deve — fazer se o seu filho sofrer uma queimadura? As queimaduras em crianças são mais comuns do que imaginamos e, na maioria das vezes, acontecem dentro de casa, durante situações simples do dia a dia. Um copo de café quente sobre a mesa, o ferro de passar esquecido ligado ou até o banho um pouco mais quente do que o normal podem ser suficientes para causar uma lesão na pele sensível da criança.
Neste artigo, vou explicar como reconhecer o tipo e a gravidade da queimadura, o que fazer nos primeiros minutos após o acidente e quais são as formas mais eficazes de prevenção. Tudo em uma linguagem simples, para que você se sinta mais preparado para agir com segurança se isso acontecer. As orientações aqui têm base em instituições confiáveis como a Sociedade Brasileira de Pediatria, o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Por que as queimaduras em crianças são tão frequentes?
As crianças são naturalmente curiosas. Elas exploram o mundo com as mãos e muitas vezes não têm noção dos riscos que correm. Segundo dados do Ministério da Saúde, os acidentes domésticos são uma das principais causas de internação infantil no Brasil, e as queimaduras estão entre as mais comuns. A pele da criança é mais fina e delicada, o que faz com que o calor penetre com mais facilidade e provoque lesões profundas.
As queimaduras podem ocorrer por diversas causas:
- Queimaduras térmicas: causadas por líquidos quentes, vapor, fogo, superfícies aquecidas ou contato direto com o sol.
- Queimaduras elétricas: resultam do contato com tomadas, fios desencapados ou aparelhos elétricos.
- Queimaduras químicas: provocadas por produtos de limpeza, solventes, desentupidores e outros agentes corrosivos.
- Queimaduras biológicas: mais raras, podem ocorrer por contato com substâncias produzidas por plantas ou animais.
Entre todas, as queimaduras térmicas são as mais comuns em crianças pequenas — especialmente as causadas por líquidos quentes, conhecidas como escaldaduras. Um simples copo de leite fervendo pode atingir 60 °C, temperatura suficiente para causar queimadura de segundo grau em menos de um segundo.
Como identificar o grau da queimadura
Existem três graus principais de queimaduras. Saber identificá-los é essencial para entender a gravidade e decidir se é necessário buscar atendimento médico imediato.
- 1º grau: É o tipo mais leve. A pele fica avermelhada, dolorida e sensível ao toque, mas não há formação de bolhas. Um exemplo comum é a queimadura solar leve.
- 2º grau: Atinge camadas mais profundas da pele, provocando bolhas, dor intensa e vermelhidão. Pode haver saída de líquido e a área costuma inchar. Precisa de avaliação médica.
- 3º grau: É a mais grave. Afeta todas as camadas da pele e, às vezes, músculos e nervos. A pele fica escurecida, endurecida ou esbranquiçada. Curiosamente, a dor pode ser menor, pois há destruição das terminações nervosas. Exige atendimento hospitalar urgente.
Além da profundidade, é importante observar a extensão (o tamanho da área atingida) e a localização da lesão. Queimaduras no rosto, nas mãos, nos pés, nas genitálias ou em grandes áreas do corpo precisam sempre de avaliação médica.
O que fazer imediatamente após a queimadura
Os primeiros minutos são decisivos para limitar a gravidade da lesão. Veja o passo a passo recomendado por pediatras e entidades médicas:
- Mantenha a calma e proteja a criança. Afaste-a da fonte de calor ou do agente causador da queimadura imediatamente.
- Resfrie o local com água corrente em temperatura ambiente (nunca gelada) por 10 a 20 minutos. Isso alivia a dor e reduz o dano térmico.
- Não use gelo. O gelo pode agravar a lesão e causar queimadura pelo frio.
- Remova anéis, pulseiras ou acessórios próximos à área afetada, antes que ocorra inchaço.
- Não retire roupas grudadas na pele. Se o tecido estiver colado, molhe a roupa com água e leve a criança assim ao hospital. Tentar retirar pode arrancar partes da pele.
- Não fure bolhas. Elas funcionam como uma barreira natural contra infecções.
- Não use receitas caseiras como pasta de dente, manteiga, óleo, pó de café, pomadas ou claras de ovo. Esses produtos aumentam o risco de infecção e dificultam a avaliação médica.
- Procure um serviço médico sempre que a queimadura for extensa, atingir áreas sensíveis ou se a criança apresentar dor intensa, febre ou mal-estar.
Mitos e erros comuns no tratamento de queimaduras
Ainda hoje, muitos mitos são repassados de geração em geração e acabam piorando a situação da criança. Vamos esclarecer alguns:
- Pasta de dente ajuda a aliviar a dor: Mito! A pasta de dente contém substâncias irritantes que aumentam o risco de infecção.
- Pomadas antibióticas devem ser aplicadas imediatamente: Apenas sob orientação médica. O uso inadequado pode mascarar a gravidade da lesão.
- Gelo alivia mais rápido: O gelo queima a pele e aprofunda a lesão. Prefira sempre água corrente.
- Queimaduras pequenas não precisam de médico: Mesmo pequenas áreas podem complicar, especialmente em crianças pequenas. Sempre observe sinais de infecção ou bolhas.
Como prevenir queimaduras em casa
Mais de 80% das queimaduras em crianças poderiam ser evitadas com medidas simples de prevenção. Veja algumas orientações práticas:
Na cozinha
- Mantenha panelas com os cabos voltados para dentro do fogão.
- Evite segurar a criança enquanto cozinha ou carrega líquidos quentes.
- Use as bocas de trás do fogão sempre que possível.
- Não deixe toalhas longas sobre a mesa: elas podem ser puxadas e derrubar objetos quentes.
No banheiro
- Teste a temperatura da água do banho com o dorso da mão antes de colocar a criança.
- Evite deixar o aquecedor de água muito quente — o ideal é não ultrapassar 37 °C.
No quarto e nas áreas comuns
- Evite deixar ferro de passar, chapinha, secador e outros aparelhos ligados ao alcance da criança.
- Instale protetores de tomada e mantenha fios fora do alcance.
- Não permita que as crianças brinquem com velas, fósforos ou isqueiros.
Com produtos de limpeza
- Guarde produtos químicos em armários altos e trancados.
- Jamais coloque líquidos de limpeza em garrafas de refrigerante ou recipientes de alimentos — o risco de ingestão acidental é alto.
Queimaduras em bebês: atenção redobrada
Os bebês são os mais vulneráveis, pois não têm reflexos suficientes para se afastar de uma fonte de calor. Evite aquecer mamadeiras no micro-ondas, pois a temperatura pode ficar irregular e queimar a boca do bebê. Teste sempre o leite no dorso da mão.
Ao preparar o banho, misture bem a água e teste antes de colocar o bebê. Lembre-se: o sistema de regulação térmica dos bebês ainda é imaturo, e eles podem se queimar mais rapidamente do que um adulto.
Quando procurar o hospital imediatamente
Procure atendimento de urgência se:
- A queimadura for de 2º ou 3º grau e ocupar área maior que a palma da mão da criança.
- Houver bolhas grandes, dor intensa ou sinais de infecção (vermelhidão aumentada, pus, mau cheiro).
- A lesão estiver no rosto, nas mãos, nos pés, nas articulações ou na região genital.
- A queimadura tiver origem elétrica ou química.
- A criança apresentar febre, sonolência ou dificuldade para respirar.
O tratamento pode incluir limpeza com solução salina, curativos específicos, antibióticos e, em casos graves, internação hospitalar para hidratação e acompanhamento cirúrgico. Nunca tente tratar uma queimadura grave apenas em casa.
Recuperação e cuidados após a queimadura
Durante a cicatrização, mantenha o local limpo, protegido e observe diariamente a evolução. O médico pode indicar pomadas cicatrizantes ou trocas de curativo. A exposição solar deve ser evitada, pois pode escurecer a pele e deixar manchas permanentes. Sempre use roupas leves e limpas para não irritar a ferida.
Além do cuidado físico, o apoio emocional é essencial. Queimaduras podem causar medo e dor, e é importante acolher a criança, explicar o que está acontecendo e transmitir segurança.
Conclusão
As queimaduras em crianças são acidentes comuns, mas totalmente evitáveis. A prevenção é sempre o melhor caminho. E, se acontecer, agir com calma e de forma correta pode reduzir muito as complicações. Procure sempre o pediatra ou o cirurgião pediátrico para orientação adequada.
Fontes e referências
- Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
- Ministério da Saúde – Portal da Saúde
- Organização Mundial da Saúde (OMS)
- Hospital Sírio-Libanês
- Hospital Infantil Sabará
Cirurgiões pediátricos, e mais especificamente cirurgiões plásticos com especialização em pediatria, tratam queimaduras em crianças, que são um tipo de trauma comum na infância. O tratamento dependerá da gravidade da lesão.
O Dr. Henrique Canto é um Cirurgião pediátrico que tem como especialização o tratamento de dores abdominais, inchaços, bloqueios intestinais, dificuldade urinária, infecções ou lesões graves em bebês e crianças (veja quando procurar um cirurgião pediátrico), mas se você precisa esclarecer dúvidas ou necessita uma avaliação médica especializada para seu filho, clique aqui para agendar uma consulta.



